Entendendo a Tontura Postural Perceptual Persistente: Não É Sempre Labirintite!
Muita gente chega no consultório ou pesquisa no Google pensando que o problema é no labirinto do ouvido – aquela famosa labirintite que todo mundo ouve falar. Mas, em muitos casos, o que está rolando é algo chamado Tontura Postural Perceptual Persistente, ou TPPP para encurtar. É uma condição crônica que afeta o equilíbrio de um jeito mais complexo, envolvendo não só o ouvido, mas o cérebro, os olhos, os músculos e até o lado emocional.
O Que É Essa TPPP, Afinal?
Imagine que o seu corpo é como um time de futebol: para manter o equilíbrio, olhos, ouvidos internos (o sistema vestibular), músculos e o cérebro precisam trabalhar juntos. Quando algo dá errado, como uma infecção no ouvido ou um estresse forte, o corpo tenta compensar. Mas, em algumas pessoas, essa compensação "trava" e vira um problema crônico. A TPPP não é uma doença estrutural, tipo um dano permanente no labirinto – é mais uma falha no "software" do cérebro, onde ele fica hipervigilante a movimentos e estímulos, achando que tudo é uma ameaça.
O nome vem da Sociedade Bárány, um grupo internacional de especialistas em equilíbrio, que definiu isso em 2017. Antes, chamavam de Vertigem Fóbica Postural ou Tontura Crônica Subjetiva, mas agora é TPPP. E olha só: ela é super comum! Estudos mostram que até 40% das pessoas com tontura crônica em clínicas especializadas têm isso, e afeta mais mulheres entre 40 e 60 anos, mas pode pegar qualquer um, inclusive crianças.
Por que confundem com labirintite? Porque os sintomas são parecidos no começo: tontura, instabilidade. Mas labirintite é aguda, tipo uma inflamação passageira no labirinto, enquanto TPPP é persistente, dura meses ou anos, e não tem nada a ver com infecção. Muitos pacientes vão de médico em médico achando que é labirintite crônica, mas na verdade é essa disfunção funcional que precisa de uma abordagem diferente.
Os Sintomas: Como Saber Se É Isso?
Os sintomas da TPPP não são daqueles rodopios violentos como na vertigem clássica. É mais uma sensação chata e constante que te deixa exausto. Aqui vão as principais características, explicadas de forma simples:
Tontura não rotatória e instabilidade: Você sente como se a cabeça estivesse "leve", "enevoada", "pesada" ou "de algodão". Pode parecer que o chão balança quando você está parado, ou que você vai cair para o lado ao caminhar. É como se o equilíbrio não fosse mais o mesmo de antes.
Dura o dia todo (ou quase): Os sintomas estão presentes na maioria dos dias, por pelo menos 3 meses. Eles podem variar de intensidade – começam leves pela manhã e pioram ao longo do dia. Às vezes, dão uma trégua, mas voltam com tudo.
O Que Piora Tudo?:
Ficar em pé ou sentado por muito tempo.
Movimentos da cabeça ou do corpo (ativos ou passivos, tipo andar ou ser levado de carro).
Estímulos visuais fortes: ler, usar computador, assistir TV, jogar videogame, ou andar em lugares com padrões complexos (como tapetes cheios de desenhos ou supermercados lotados).
Ambientes movimentados: shoppings, ruas cheias, ou até privação de sono pode agravar.
É como se o cérebro ficasse sobrecarregado com informações sensoriais normais do dia a dia. Muitos relatam que se sentem pior em posições verticais ou expostos a movimentos, e isso pode vir acompanhado de ansiedade – não porque você é "nervoso", mas porque o sistema de equilíbrio e o de emoções estão conectados no cérebro.
E tem subtipos: alguns pioram mais com estímulos visuais (como telas), outros com movimentos ativos (como andar), e há os mistos. Mas o importante é que não é "só na cabeça" – é real e tem bases neurológicas, como mostram estudos com imagens do cérebro.
Critérios para Diagnosticar: O Que os Médicos Procuram?
Para confirmar TPPP, os médicos seguem critérios oficiais da Sociedade Bárány. Não é só um exame de ouvido; é baseado na sua história e sintomas. Todos os pontos A a E precisam bater:
A: Um ou mais sintomas de tontura, instabilidade ou vertigem não rotatória presentes na maioria dos dias por 3 meses ou mais. Eles podem variar, piorar ao longo do dia, e ter picos espontâneos ou com movimentos.
B: Os sintomas aparecem sem motivo específico, mas pioram com postura em pé, movimentos (ativos ou passivos) ou estímulos visuais complexos.
C: Geralmente começa após um gatilho, como uma crise de vertigem (ex: VPPB, neurite vestibular, migrânea), um problema médico (como trauma na cabeça ou arritmia) ou estresse forte (como pânico). Pode começar devagar, mas vira crônico.
D: Causa angústia real e atrapalha a vida – trabalho, lazer, tudo.
E: Não é melhor explicado por outra doença (como migrânea vestibular, neuropatia ou algo neurológico).
Dica: Os sintomas precisam durar horas por dia, mais de 15 dias por mês. E ela pode coexistir com outras condições, tipo ansiedade ou depressão, que afetam até 2/3 dos casos.
Por Que Isso Acontece e O Que Fazer?
Muitos gatilhos incluem problemas no ouvido (como neurite ou Menière), pânico, concussão ou até remédios. Pessoas ansiosas ou introvertidas têm mais risco, porque o cérebro delas reage mais forte a desequilíbrios. Mas, tem tratamento: reabilitação vestibular (exercícios para "treinar" o equilíbrio), terapia cognitiva comportamental e, às vezes, remédios como antidepressivos serotoninérgicos.
Se você se identificou, não ignore! Muita gente sofre anos achando que é "normal" ou "labirintite eterna". Recomendo fortemente uma avaliação especializada com um otorrinolaringologista ou neurologista que entenda de otoneurologia. Eles podem fazer testes simples, questionários e exames de equilíbrio, para confirmar e montar um plano personalizado de tratamento. Quanto mais cedo, melhor o resultado – não espere virar crônico de vez!
Principal fonte consultada: Temas Otoneurológicos - Update em otoneurologia
Tontura Postural Perceptual Persistente. DOI: 10.5935/aborl-ccf.202200022